sábado, 30 de maio de 2009

"Jogo da bolha" rende um milhão a falsos polícias

Três indivíduos, de farda e encapuzados, munidos de metralhadoras e caçadeira, surpreendem cerca de 800 pessoas numa quinta em Gaia. Vítimas não se queixaram às autoridades.

Vestidos de polícias, encapuzados, com metralhadoras e caçadeira, três indivíduos surpreenderam cerca de 800 pessoas que, anteontem à noite, participavam no "jogo da bolha", numa quinta em Gaia. Assalto pode ter rendido até um milhão de euros.

Estava repleto o salão de festas da Quinta de S. Salvador, em Oliveira do Douro, Gaia. Eram cerca de 22.30 horas e ainda nem tinha começado o jantar. O ambiente estava animado e a esperança de multiplicação do dinheiro no auge quando os três assaltantes, que entraram nas instalações através da cozinha, apanharam tudo e todos de surpresa. "Mãos ao ar! Assalto!", terão gritado, para espanto geral.

Usando coletes e fardas com a inscrição "Polícia", semelhantes às do Corpo de Intervenção, o trio efectuou de imediato disparos de intimidação contra o tecto. Na mira das armas - duas metralhadoras Uzi e uma "shotgun" (caçadeira) - os participantes do "jogo da bolha" e os vários funcionários foram obrigados a deitar-se no chão e a não oferecer resistência. Houve quem conseguisse correr pela porta fora, em pânico. Um dos presentes ficou, então, incumbido de recolher, pelas mesas, os envelopes com o dinheiro que seria investido no jogo.

"Vi o pessoal todo aninhado e com as mãos atrás da cabeça. Quando ouvi gritos escondi-me debaixo da banca. Só rezava", contou, ao JN, Rosa Carvalho, uma funcionária, que na altura do assalto estava num anexo do restaurante a lavar pratos. "Peguei no telemóvel para tentar ligar a um responsável da quinta e chamar a Polícia, mas um dos assaltantes viu-me e retirou-mo. Ouvi pessoas a dizer: 'Lá se foram os envelopes", adiantou.

No meio da confusão, um dos funcionários foi agredido a pontapé e teve de receber tratamento hospitalar a ferimentos ligeiros. Houve também alguns danos em mesas e louça estilhaçada. O INEM foi ao local, uma vez que algumas das pessoas ameaçadas sentiram-se mal. A investida terá durado entre cinco e dez minutos e, no final, segundo o JN apurou, o trio ainda desejou "boa noite e bom jantar" aos participantes.

O JN tentou ouvir algum responsável pela Quinta de S. Salvador, mas a única resposta obtida foi: "Não há declarações a dar". De resto, naquelas instalações, o dia de ontem correu dentro da normalidade. De acordo com vizinhos, que apenas se aperceberam do que tinha acontecido após a chegada de várias viaturas policiais, a noite de anteontem foi bastante concorrida na quinta. "As ruas à volta estavam cheias de carros de boas marcas. Era só carros a chegar. Aquilo parecia uma excursão a Fátima", comentou um dos moradores, sublinhando que aquele cenário é recorrente. Houve quem visse, logo a seguir ao assalto, "pessoas atrapalhadas" a meterem-se nas viaturas.

O montante arrecadado pelos assaltantes, que terão fugido numa viatura, não poderá ser calculado com rigor, mas as autoridades apontavam para centenas de milhares de euros, eventualmente a rondar o milhão. O facto de as vítimas não terem formalizado queixa, dada a clandestinidade do jogo, dificulta as investigações. Os lesados nem esperaram pela chegada dos polícias, abandonado apressadamente o local. A PSP limitou-se a identificar os funcionários.

Tendo em conta que, alegadamente, o mínimo de dinheiro a investir seria de dez mil euros por pessoa e de, na semana passada, terem sido distribuídos pelos jogadores cerca de 950 mil euros, tudo aponta para um roubo milionário. A Polícia Judiciária suspeita que a investida foi preparada ao pormenor por indivíduos que conheciam bem os meandros do "jogo da bolha" e que até já terão participado em eventos do género.

Jornal de Notícias

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